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Destino MG: cicloviajante rondonense completa jornada dedicada à sua mãe

Postado em: 01/03/2023

Marcelo escolheu a Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, como destino final de sua terceira cicloviagem

“Por volta das 16h30, em uma tarde de segunda-feira, 27 de fevereiro, realizei um sonho de ciclista de chegar até Belo Horizonte sobre duas rodas. Uma mistura de tudo quanto é sentimento surgiu naquela hora por tudo que enfrentei por chegar até ali. Gratidão, Deus, por tudo”.

Com esta mensagem divulgada em suas redes sociais, o rondonense Marcelo Kanieski encerrou uma jornada que provavelmente poucos teriam condições físicas e mentais ou tamanha determinação para completar.

Desde o dia que saiu de sua casa, em Marechal Cândido Rondon, no dia 1º de janeiro, até a chegada à Lagoa da Pampulha, cartão-postal de Belo Horizonte (MG), 58 dias se passaram, dentre os quais 44 pedalando, totalizando exatos 2.608,60 km sobre a bike para realizar um sonho que não era somente seu.

“Essa viagem é dedicada à minha mãe Olga de Fátima Conde Kanieski. Ela nasceu em Varginha, e Minas Gerais é o estado do qual sempre ouvi falar, então sempre tive a vontade de conhecer essa região. Estar em Minas é também um sonho realizado pela minha mãe, que saiu aos nove anos para o Paraná e nunca mais voltou. Uni a minha paixão de ciclista ao sonho da minha mãe voltar a Minas. Passar de bike onde ela nasceu foi algo emocionante demais. Digamos que eu voltei por ela, e melhor ainda, conheci os lugares que ela tanto falava”, relata Marcelo, reconhecendo que o destino final tinha a ver também com uma saborosa questão culinária. “Poderia ser Varginha o ponto final, mas BH era logo ali e estava definido há um ano que seria de Marechal – Belo Horizonte. Toda cicloviagem minha precisa ter um destino final, e escolhi a capital de Minas para terminar e poder comer muito pão de queijo aqui”, acrescenta, com muito bom humor.


Cicloviajante experiente

Apaixonado por ciclismo desde criança, Marcelo completou sua terceira cicloviagem sobre duas rodas. Após desbravar todos os roteiros e estradas na região de Marechal Rondon, decidiu, há três anos, ‘pegar a estrada’ rumo a destinos que ainda não conhecia. “Pedalo desde os cinco anos, quando minha irmã mais velha Fernanda me ensinou, e nunca mais parei. Tenho uma paixão por esse esporte, amo fazer isso. Cansei de pedalar em ‘volta de casa’, já vi tudo o que tinha para ver na região, as cachoeiras, estradas rurais, e decidi conhecer outros lugares sobre duas rodas. Em 2020 fui para a Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, e em 2022 para o Rio de Janeiro, no Cristo Redentor. Neste ano escolhi Minas Gerais para dedicar a viagem à minha mãe”, relata Marcelo, destacando que numa cicloaviagem a jornada é tão importante quanto alcançar o destino final, mesmo que leve muito mais tempo. “Na cicloviagem temos que aproveitar o momento, a estrada, as paisagens. Sei que não posso parar em todos os lugares, mas o que conseguir é lucro, como conhecer cachoeiras, lugares turísticos. Meu destino era Belo Horizonte, mas por causa da minha mãe fiz toda uma volta, fiz isso de coração, toda minha dedicação, garra e vontade. Você sai de casa com um planejamento, mas a todo momento isso muda. Questão de estrada, local para dormir. São muitas histórias”, afirma.

Sozinho na estrada, mas na companhia de Deus

E dentre as inúmeras situações inesperadas pelos quais passou nesta viagem, Marcelo, demonstrando muita fé em suas palavras, por várias vezes recebeu ajuda de pessoas desconhecidas, mas que, segundo ele, foram colocadas por Deus em seu caminho. “Não durmo em barracas, por estar sozinho. Não me sinto só porque estou na companhia de Deus, mas decidi dormir em pousadas e hotéis para ficar mais seguro. Já fiquei em pousadas onde não cobraram. Teve um caso marcante que aconteceu em Sertanópolis, na divisa com Assis, em São Paulo. Fui no único hotel da cidade, mas estava interditado. Fui até um resort, onde a pernoite era R$ 180,00, mas não iria pagar isso, pois esse valor equivale a três ou quatro dias de viagem para quem viaja de bike na estrada. Encontrei então uma igreja no final da cidade, e deu tudo certo. Falei com o padre, que me convidou para passar a noite na casa dele, assisti à missa, fui tratado como se fosse da família. Nesses momentos tenho certeza que não fui atrás de ninguém, mas Deus colocou essas pessoas no meu caminho. Tenho muita fé, pois sem ela não iria virar nem a esquina de casa”, relata o rondonense, explicando o motivo de viajar sem algum amigo ao seu lado na estrada.

“Já pensei inúmeras vezes em chamar alguém que goste de fazer isso, mas tem a questão de tempo, dinheiro, preparo físico e psicológico. Quem vai pedalar isso tudo junto comigo se o sonho é meu? Então não chamo ninguém, mas não acredito que seja individualismo meu. Já é perigoso sozinho nas estradas sem acostamento, imagina em dupla ou trio”, reflete.

‘Perrengues’

Ao passar quase dois meses viajando de bicicleta por tantos locais desconhecidos, à beira de rodovias muitas vezes mal sinalizadas e sofrendo com as intempéries do clima, fica fácil imaginar que em muitos momentos o rondonense passou sufoco em sua jornada. “Até a chegada em Varginha, no 40º dia de viagem, tive que trocar sete vezes de pneu, e passei por pelo menos três chuvas muito fortes na estrada, procurando locais para me proteger, como galpão de fazenda. Dentre os principais ‘perrengues’ estão encontrar lugar para pousar, pneus furados, chuva e sede, pois durante a pedalada sinto muita vontade de beber água. Já sabia que iria passar por todos os problemas, só não sabia aonde e quando”, expõe, que antes de sair de casa já havia decidido evitar mais um tipo de dificuldade. “Já tinha resolvido não pedalar à noite, pois a impressão é que você está indo para algum buraco negro”.

Férias ou trabalho

Engenheiro agrônomo de formação, mas sem exercer a profissão atualmente, Marcelo aproveita as postagens e divulgações de suas cicloviagens para se manter. “Atualmente trabalho com a internet mesmo, gravo vídeo dos meus pedais, lugares, edito. Estou de férias? Não sei se seria bem essa a palavra, digamos que tirei uns dias do ano para realizar meu sonho. Depois volto para casa e vida que segue”, analisa.

Retorno

E por falar em volta para casa, Marcelo, que ainda ficará alguns dias em Belo Horizonte ‘curtindo os lugares de bike’, definiu que o retorno será mais rápido e menos desafiante que a ida. “Vou pegar o ônibus e voltar para casa em segurança, encontrar a família e contar todas as histórias que vivi e compartilhar com eles tudo o que fiquei feliz por conquistar. Na volta da Serra fiz tudo de bicicleta, mais 14 dias de viagem, porque queria conhecer o litoral de Santa Catarina. No Rio também fui acreditando que conseguiria voltar pedalando, mas depois de certos dias o psicológico mexe demais, não é uma questão só de querer, mas também a parte mental e de custo. A ida é sensacional, mas a volta para casa não é legal, pois o sonho do destino já foi alcançado, então você pensa: ‘Porque estou voltando de bicicleta?’. De 2020 para cá amadureci muito, fiz muitas coisas pensando em chegar logo, em contar os quilômetros, mas agora para BH estou mais experiente e acredito que as próximas serão melhores ainda”, acredita.

  

E enquanto ainda curte sua terceira cicloviagem, Marcelo faz uma lista de lugares para a quarta, quinta, sexta, sétima. “Tenho muito destinos para ir ainda, se Deus quiser. Dentre os lugares mais distantes tem o Central Park, em Nova Iorque, e o México. Mais próximo tem Argentina, Peru e Chile, mas primeiro vou fazer os estados do ‘Brasilzão’”, finaliza.

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