Cursar uma faculdade nos Estados Unidos e ainda competir no mais alto nível do esporte universitário norte-americano. O que é sonho para muitos jovens brasileiros, e também de diversos outros países, é realidade para o jovem Felipe Augusto Hein Mendes.
Prestes a completar 20 anos no mês de outubro, o rondonense, filho de José Carlos Mendes, o Spock, ex-jogador da seleção brasileira de handebol, e da atleta de voleibol Evandra Hein Mendes, Felipe carrega em seu DNA o legado esportivo da família.
Início
Atleta de futsal e principalmente handebol na adolescência, Felipe faz questão de lembrar a importância que os professores Gleison Pacheco e Rodrigo Zart, o Nonucho, tiveram em sua formação. “Joguei handebol e tomei muito gosto pelo esporte por conta de ver meu pai jogar, e como jogava. Em um certo momento sabia que teria que escolher entre o handebol e o vôlei para focar mais e me doar 100% para aquilo, depois de um tempo decidi escolher o voleibol, porém o handebol é e sempre será uma paixão. Sem dúvida nenhuma me ajudou a desenvolver aptidão para o vôlei e aprimorar minha técnica. Agradeço muito ao Gleison e ao Nonucho pelos ensinamentos”, expõe.
Mas foi pelo voleibol, a partir dos 13 anos, que o jovem decidiu optar. “Como na minha casa sempre foi muito presente o esporte, minha vontade de estar nesse mundo era muito grande. Sempre pratiquei futsal e comecei depois com o handebol. Minha mãe jogou vôlei e sempre jogava com ela, em casa mesmo, e na escola nas aulas de Educação Física, até que surgiu a vontade de começar a treinar, e comecei a frequentar os treinamentos no Colégio Martin Luther, com o professor Evandro Veiga. Em 2016 continuei treinando em Marechal, e foi quando jogamos o Paranaense, porém como nossa cidade não tem muita tradição no vôlei masculino, diferente do feminino, sabia que precisaria buscar algo fora daqui para alcançar o alto nível do voleibol e assim me preparar para uma carreira no esporte”, recorda Felipe.
Trajetória
Com o objetivo de ser jogador de voleibol traçado, o rondonense foi em 2017 para Toledo, treinar com o Professor André Van de Sand na equipe juvenil. “Lá eu tive uma melhora significativa nos meus movimentos. Jogamos o Estadual, Jogos da Juventude e Copa Oeste, que me deram muita experiência de jogo”, afirma o atleta.
No ano seguinte, um novo salto importante na sua ainda precoce carreira. “Com uma ambição maior ainda e vontade de seguir uma carreira nesse esporte, em 2018, com 15 anos, me mudei para São Paulo, jogar pelo Esporte Clube Pinheiros, um clube de muita tradição, onde pude trabalhar com uma das referências do vôlei brasileiro, Silvio Forti, e conseguimos conquistar o título do Campeonato Paulista sub 17 invictos. Foi uma mudança bem drástica sair de uma cidade pequena para a maior cidade do Brasil, longe da família e amigos, mas com muita vontade e energia pra fazer meu trabalho e evoluir cada vez mais”, relembra Felipe, demonstrando uma maturidade incomum para sua idade.
Em 2019, uma nova mudança de ares, desta vez para Maringá, onde conquistou o Campeonato Paranaense sub-18. Mais perto de casa, Felipe guarda com carinho os momentos decisivos da competição. “A Fase Final foi disputada em Toledo, o que foi muito bom, pois consegui ver minha família e ter esse apoio nos jogos finais do campeonato”.
Um momento de alegria antes da famigerada pandemia de Covid 19 fazer com que muitas competições esportivas fossem canceladas em 2020. “Muitos campeonatos foram suspensos e só tivemos o Paranaense no final do ano, onde não conseguimos avançar para as finais”, lamenta.
American Dream
E foi justamente no auge da pandemia, ‘preso’ dentro de casa, que Felipe viu a oportunidade de buscar a realização de um sonho. “Sempre tive muita vontade de sair do Brasil para jogar e fazer faculdade nos Estados Unidos, mas isso parecia algo tão distante, então nem pensava que isso realmente aconteceria. Depois de alguns meses trancado em casa, com tudo fechado, comecei a procurar mais sobre o assunto e foi então que tudo começou. Entrei em contato com a agência Tie Break e comecei todo esse processo com meu agente, Mark Plotyczer. Foram muitas horas de estudo para conseguir fazer as provas de proficiência em inglês e muita correria atrás de material de vídeo para mandar para as universidades de lá. Uma ou duas semanas depois comecei a receber algumas propostas de bolsa de universidades dos Estados Unidos e Canadá, porém, como meu sonho sempre foi os Estados Unidos e a bolsa era melhor, decidi continuar o processo com essa faculdade da Flórida, a Warner University”, relata. “Foi um processo no qual tive que correr atrás de alguns papéis de escola, estudando muito o inglês e me preparando para poder ir para lá. O visto de estudante não foi algo fácil de conseguir, pois estávamos no meio da pandemia, então minha primeira viagem para lá foi em agosto de 2021”, completa Felipe, que ingressou no curso de Exercise Science. “É o equivalente ao curso de fisioterapia no Brasil”.
Instalado em sua nova cidade, que fica a 50 minutos de carro do Orlando, Felipe se tornou também atleta do Warner University Royals, equipe que disputa a liga NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics), uma espécie de 2ª divisão do voleibol universitário americano. Apesar de não ter chegado com sua nova equipe à final da Conferência, Felipe obteve importantes conquistas individuais. “Recebi o prêmio de All Conference Honorable Mention (menção honrosa para o time da conferência) e uma vez Attacker of the Week (atacante da semana), além de ter sido o segundo jogador do time que anotou mais pontos e o primeiro em pontos de saque. Foi uma temporada muito boa, de muito aprendizado”, destaca Felipe, que fez 20 jogos em sua primeira temporada, viajando por estados da Georgia, Carolina do Sul, Tennessee e Kentucky.
Adaptação
Preocupado, em sua chegada aos Estados Unidos, com as diferenças culturais e como seria sua nova vida fora do país natal, Felipe garante que em pouco tempo se acostumei ao ambiente universitário. “Quando cheguei lá tudo era muito novo, e por não ser de lá estava um pouco preocupado como seria, mas fui muito bem recebido pelos colegas de time, professores, técnicos, staff da universidade. Contudo, era uma cultura totalmente nova, com um povo que nunca tive contato antes, e algumas coisas achava estranho e diferente, porém tudo foi se ajeitando. Ao chegar percebi que não era o único estrangeiro e várias equipes, com a mentalidade de serem competitivas, chamavam pessoas de outros países, inclusive brasileiros. No começo foi um pouco difícil me adaptar com a rotina, pois treinávamos às 6 da manhã, antes das aulas, então passei a dormir mais cedo para conseguir ter uma boa performance. O estilo de jogo também era um pouco diferente, mas não demorou muito e já estava confortável com a equipe e a maneira como jogavam”, explica.
Característica
Não será para Lake Wales, porém, que Felipe irá quando retornar aos Estados Unidos, em meados de agosto. Com as boas atuações pelos Royals, o rondonense foi convidado a jogar pela University of Charleston, na capital do estado de West Virginia. Lá, além de seguir a graduação, ele irá competir na NCAA (National Collegiate Athletic Association), principal liga universitária do país, pelos Golden Eagles. “Estou me transferindo para jogar na elite do vôlei universitário americano. Estou com uma mente muito boa para evoluir sempre”, garante o ponteiro, ou melhor, outside hitter. “É assim que a posição é chamada nos Estados Unidos. Tenho muito a característica de passe e sempre procuro evoluir muito no ataque, por ter uma boa impulsão combinada com muita técnica” avalia Felipe, citando os atletas que busca se inspirar quando está dentro de quadra. “Como sempre acompanhei o vôlei universitário dos Estados Unidos, me inspiro muito em jogadores como Taylor Sander e TJ Defalco. No Brasil um jogador mais antigo, mas que pego muito as características, seria o Giba. Por não ser tão alto ele tinha que saltar muito e complementar com uma boa técnica e muita velocidade com explosão”, explica o atleta de 1,90m.
Futuro
Se tudo correr dentro do planejado, daqui três anos Felipe deixa a faculdade com o diploma embaixo de um braço. Do outro, claro, estará a bola de voleibol. “Assim que me formar quero seguir jogando. Após terminar minha graduação tenho vontade de continuar no vôlei com uma carreira profissional, visando uma ida para a Europa”, projeta. “Meu maior objetivo é jogar em grandes times da Itália, Polônia, Turquia e Alemanha. Na Itália um dos maiores times seria o Lube Civitanova, com uma grande história no voleibol e na Polônia gostaria muito de jogar no Jastrz&281;bski W&281;giel, time de muita qualidade. O maior sonho de todo atleta, inclusive o meu, é um dia poder vestir e representar meu país em campeonatos mundiais e principalmente nas Olimpíadas. É um caminho muito difícil, mas nunca impossível”, finaliza.
Oferecimento: