Um personagem que se confunde com a história do esporte de Marechal Cândido Rondon, em especial o futsal. Ou melhor, o bom e velho futebol de salão, pois a história de Karl Schmidt com o ‘esporte da bola pesada’ remete ao início dos anos 1980, quando iniciou, por volta dos 30 anos de idade, sua trajetória como técnico de futsal em clubes e associações que hoje são apenas lembranças, ainda muito vivas, de quem viveu aquele período de ginásios lotados para acompanhar torneios municipais e regionais.
Após chegar adolescente a Marechal Cândido Rondon e trabalhar como soldador e pedreiro, foi em 1986, há exatos 36 anos, que o catarinense de Ibirama, mas que passou a adolescência na gaúcha Bagé, iniciou sua trajetória como professor da escolinha da Copagril, através de um projeto elaborado pelo então diretor esportivo da AACC, Adolir Weber, o Kinha, outro nome marcante da história do esporte regional, que se considera um grande fã do primeiro desportista a receber o título de Cidadão Honorário de Marechal Rondon, em 2003. “Falar do Karl é muito fácil pra mim, pois acompanhei toda sua trajetória no esporte, como atleta, dirigente e amigo. Sou um grande fã pelo trabalho que ele faz, e o Karl merece todas as homenagens possíveis no esporte de Marechal Rondon e região. É uma pessoa dedicada ao esporte, não conheço ninguém que tenha feito tudo o que ele já fez. Faça sol ou faça chuva, ele sempre esteve presente como colaborador, professor, formador de atleta e de homens e sempre se colocou à disposição para ajudar”, relata Kinha, enaltecendo a trajetória do amigo. “Posso dizer que ele chegou a fazer mais pelos nossos filhos que pelos próprios filhos dele. Parabéns Karl, você merece todas as homenagens que já foram feitas e quem ainda serão realizadas no futuro. Quero aproveitar para te agradecer e homenagear como ser humano e como um grande amigo que é”, acrescenta.
A recíproca, nesse caso, é mais que verdadeira. Optando, com destreza, por não citar nomes de pessoas que contribuíram com sua trajetória para não correr o risco de deixar alguém de fora, Karl Schmidt faz questão de citar, com orgulho, o nome de Adolir Weber, grande responsável pelo início dessa história que já atendeu, nas contas do próprio ‘pai Karl’, como também é carinhosamente conhecido, mais de 5 mil crianças e adolescentes nestes 36 anos de trabalho social desenvolvido pela Associação Atlética Cultural Copagril.
“Tenho que agradecer a toda sociedade esportiva, e devo muito a algumas pessoas, principalmente ao Adolir Weber, que ajudou muito a dar um impulso no esporte rondonense e contribuiu demais no início desse trabalho. O projeto da escolinha da Copagril, iniciado há 36 anos, foi um trabalho que começou devagar e foi crescendo ao longo dos anos, mas é um trabalho de toda uma comunidade e da Secretaria de Esportes, que também sempre esteva envolvida”, comenta, demonstrando, serenamente, uma modéstia que somente grandes pessoas conseguem expor naturalmente, sem aparentar demagogia. “Não foi, não é e nunca será um trabalho apenas do Karl Schmidt. O mais importante de tudo é o trabalho social feito com essas crianças”, afirma o desportista.
No auge dos 71 anos de vida, Karl Schmidt divide sua rotina entre suas ‘três casas’: a primeira e mais importante, claro, com a esposa Selvira, com quem tem os filhos Rodrigo, Taís Carolina e Luciano; a segunda, que é a sede da Associação Atlética Cultural Copagril, onde é facilmente visto auxiliando os treinos e jogos das equipes de futsal da AACC; e a terceira, o ginásio Ney Braga, onde é figurinha carimbada nos jogos das equipes rondonenses, sejam eles de base, feminino ou adulto.
Com a experiência de quem treinou milhares de atletas, Karl observa que as atuais gerações de jogadores não conseguem demonstrar com tanta facilidade a habilidade que se via em meninos de seis ou sete anos nos anos 80 ou 90. Para ele, dois são os principais motivos: “No passado as crianças podiam brincar e jogar bola na rua, então eles tinham mais facilidade quando chegavam aqui na escolinha. Hoje a criança tem mais dificuldade, essa é a realidade. Antigamente não haviam muitos carros e motos, então havia essa opção de brincar na rua, e hoje eles praticamente só jogam bola aqui no ginásio. Elas não têm culpa. Além disso eles dividem muito seu tempo com a televisão e celular, e no passado os meninos praticamente só queriam jogar bola”, salienta Karl, lembrando com visível saudosismo equipes que marcaram época no futsal rondonense, dentre eles a geração dos irmãos Alex, Sandro e Luciano Scherer, que ainda contava com Sandro Bregoli, Jonas e Niço, e outra dos anos 90, que dentre outros contava com Amarelinho, Paulinho Giesel, Mané, Joãozinho, Neto e cia. Rafinha Muller, com carreira marcante no futsal brasileiro, foi outro ‘vinagre’ que “aqueceu forte pra entrar babando”, frase muitas vezes dita pelo treinador que sempre gera boas risadas entre ex-atletas que hoje passaram dos 30 ou 40 anos, alguns deles com os próprios filhos sendo treinados por Karl, e que lembram com carinho do tempo que passaram jogando bola com o treinador de sua infância.
Ano passado, Karl viu mais uma equipe da AACC se destacar. O sub-15, que sagrou-se campeão paranaense sob o comando, na reta final da competição, dos técnicos Gauchinho e Adilson Coitinho, mas que iniciou o trabalho com o treinador Dudu Durks, a quem Karl faz questão de ressaltar o trabalho desenvolvido nos anos em que esteve à frente das equipes de base da AACC.
Aposentar e ficar em casa assistindo seu Internacional pela TV? Claro que não. “Enquanto a AACC me aceitar trabalhando aqui é lógico que vou ficar, ainda me sinto com forças para continuar. Enquanto tiver forças estarei aqui ao lado da quadra. A gente está nas mãos de Deus”, completa.
1ª Copa Karl Schmidt
E se for para fazer uma verdadeira homenagem a pessoas de reconhecida importância, que seja feita em vida. E nesse caso, Karl Schmidt, com todo merecimento, é um privilegiado. Idealizado pela Secretaria de Esporte e Lazer de Marechal Rondon, a 1ª Copa Karl Schmidt iniciou em junho com a participação de 19 equipes rondonenses, representando AACC e Copagril, Colégios Cristo Rei, Rui Barbosa e Martin Luther, Arena Coxa e AABB/ Lídol Shop, nas categorias sub-7, sub-9, sub-11 e sub-13.
“A Copa Karl é uma competição implantada pela SMEL esse ano, que visa sanar uma demanda que percebemos da importância e necessidade de oportunizar a nossas crianças de 5 a 13 a prática esportiva, em especial o futsal. Ficamos muito felizes com o envolvimento dos atletas e família indo aos ginásios e incentivando seus filhos. Agradecemos o apoio incondicional que o poder público municipal está dando ao nosso município. É uma competição brilhante e nada mais justo que homenagear em vida aquele que muito fez pelo esporte de Marechal Rondon. Essa é nossa singela homenagem ao nosso querido professor Karl Schmidt”, reitera Digo Schneider, o Bolha, secretário de Esporte e Lazer de Marechal Rondon.
Neste sábado (02), a partir das 8h15, no ginásio da AACC, acontece mais uma rodada envolvendo as equipes mandantes e o Rui Barbosa.
Karl Schmidt, que não encontrou palavras para definir o que significa mais essa homenagem em seu nome, certamente estará lá para prestigiar e abrilhantar a festa.