Viajar quase 13 mil quilômetros, deixando para trás família e amigos, para jogar bola em um país que em nada se parece com o Brasil. Loucura? Não para o rondonense Lucas Hansel, de 20 anos, que viu no inesperado convite do Al Nasr, dos Emirados Árabes Unidos, uma grande oportunidade para sua ainda breve carreira no futsal.
Após iniciar a temporada vestindo a camisa do Marechal Futsal, Lucas se transferiu para o Toledo, que também disputa a Série Ouro do Campeonato Paranaense. E depois de apenas três jogos no time comandado pelo campeão mundial Fininho, uma ligação do empresário Luiz Henrique Ferraz mudou drasticamente seus planos para a sequência da temporada. “O Toledo Futsal me deu uma chance em um momento complicado da minha carreira. Acabei me destacando em apenas três jogos e quando me ligaram sobre a possibilidade de me transferir para os Emirados Árabes acabei topando na hora. As negociações foram evoluindo e hoje estou aqui, muito feliz pela oportunidade que o Al Nasr me deu. O time já contava com cinco brasileiros, sendo três jogadores (Pedrinho, Nathan e Russo), o técnico (Rafael Fogareiro) e o preparador físico (Rafael Duquia). Isso tudo facilita muito pra gente se comunicar aqui e poder desfrutar do nosso trabalho. É minha primeira oportunidade de sair do país, bem longe da família, mas com o intuito de mostrar meu trabalho e evoluir dentro de quadra”, explica Lucas.
Enquanto participa dos treinamentos de pré-temporada visando pelo menos cinco competições que o Al Nasr, clube poliesportivo fundado em 1945, vai disputar (Supercopa, Liga, Ettihad Cup, President Cup e Emirates Cup), Lucas Hansel vai aos poucos se ambientando à maior cidade do país, com mais de 3 milhões da habitantes, que tem no turismo, comércio, setor mobiliário e serviços financeiros sua principais receitas. O choque cultural é inevitável. “Ainda estou tentando me adaptar ao fuso horário, tem sido difícil pra mim, mas acredito que nos próximos dias esteja mais acostumado. A comida também é muito diferente do Brasil, além dos preços dos produtos serem muito caros, mas com nosso salário dá pra gente se manter normalmente. Carros como Lamborghini e Ferrari são comuns aqui, bem diferente do Brasil”, relata o rondonense, que pelo menos nos próximos 10 meses, tempo do contrato com o time árabe, vai trocar o real brasileiro pelo dirham, a moeda local.
Trajetória
Mais um entre milhões de meninos brasileiros que parecem ter nascido com uma bola nos pés, Lucas teve seu talento descoberto por um personagem marcante do esporte de Marechal Cândido Rondon: Everaldo Moura, o Bobô, que por muitos anos dedicou seu tempo livre para trabalhar, voluntariamente, com crianças carentes do município. Entre 2007 e 2016, Bobô coordenou o Projeto da Rua para o Esporte, que atendeu mais de 160 crianças e adolescentes com treinos de futsal, na quadra da Escola Waldomiro Liessen, e futebol, no campo do EC São Remo. “Comecei muito cedo, com uns nove anos, no Projeto da Rua para o Esporte, juntamente com o Bobô. Ele e seu irmão, o Mico, me ajudaram muito no começo. Depois fui para a AACC, passando pelas categorias de base, com o Dudu Durks e o Rubens Durks. Após isso fui para o projeto da Jaclani Futuro, com o Roberto Nunes e o Cris Bortolon, disputar a Série Bronze, até receber a oportunidade, com o Eduardo Santana, de subir para a Copagril”, relembra. Em 2019, se transferiu para o Dois Vizinhos. “Tive um ano muito importante pra mim e pra minha carreira profissional, onde fui campeão da Copa do Brasil e apareci para o cenário nacional”, acrescenta.
Futuro
Com 10 meses para mostrar aos árabes os motivos que os levaram a contratá-lo, Lucas acredita estar à altura do seu novo desafio. “O que passa pela minha cabeça é desfrutar esse momento, trabalhar muito para poder ajudar minha equipe com muitos gols e títulos. Se irei renovar ou não é consequência do meu trabalho”, reconhece. Jovem e com muito potencial, Lucas tem como uma de suas metas na carreira vestir a amarelinha. “O sonho de todo atleta é chegar na seleção brasileira, e o meu não é diferente, por isso vou trabalhar muito e focar nesse objetivo”.
Pivô canhoto e habilidoso, além de ter um ótimo poder de finalização, Lucas possui características raras em jogadores da sua posição. Não por acaso ele se inspira em dois desses atletas que lembram muito seu estilo. “Posso citar grandes jogadores em quem me espelho, mas acredito que os pivôs Rocha, agora do Carlos Barbosa, e o Vilela, com quem joguei na Copagril, são minhas grandes inspirações pelo estilo de jogo. Não digo parecido porque não tem como compará-los, o nível deles é absurdo”, destaca Lucas, com uma boa dose de humildade.
Ensinamentos do ídolo
Em sua breve passagem pelo Toledo, Lucas teve como treinador o campeão mundial pela seleção brasileira Fininho, um dos maiores jogadores da história do futsal. “Não tenho palavras pra falar sobre o Fininho, por tudo que ele fez pelo nosso futsal. Tive um curto período com ele, mas quero levar de aprendizado para o resto da minha vida. Fininho sempre me deixou muito à vontade dentro de quadra, me dando muita liberdade pra ir pra cima, isso me deixou muito tranquilo pra fazer o meu jogo. Sou muito grato a ele e ao Toledo Futsal”, agradece, fazendo questão de lembrar das pessoas mais importantes da sua vida. “Não posso deixar de agradecer minha família por todo apoio e todo suporte, e apesar das dificuldades sempre estiveram do meu lado”, finaliza.
O primeiro professor
De Serra do Ramalho, na Bahia, aonde dá prosseguimento ao Projeto da Rua para o Esporte atendendo centenas de meninos da sua terra natal, Everaldo Moura, o Bobô, quem descobriu Lucas Hansel jogando bola nas ruas do Jardim Marechal, em Marechal Rondon, vibra com o sucesso do jovem. “Fico emocionado ao falar do Lucas. Ele iniciou a praticar futsal comigo no Projeto da Rua para o Esporte. Ainda menino já via no Lucas um atleta de muita qualidade, que tinha condições de se tornar um jogador de alto nível. Sempre foi muito dedicado, focado e que acreditava que um dia, pela sua qualidade, poderia se tornar um atleta profissional. Para mim o Lucas significa que nunca podemos desistir quando temos um objetivo, um sonho a realizar. Fico feliz por ajudá-lo em seu início e quero agradecer a todas as pessoas que também contribuíram para que o Lucas se tornasse um jogador profissional”, relata Bobô, que deixa uma mensagem para o talento rondonense. “Lucas, continue sendo esse menino humilde que você sempre foi. Que você possa ter muito sucesso e boa sorte na sua carreira. Foi um orgulho ter lhe ajudado, e que Deus te ilumine sempre. Um abraço do seu professor e amigo”.
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