A decisão de ‘pendurar o tênis’ ao final da temporada 2021 após 20 anos de carreira no futsal estava sacramentada. Dores insuportáveis no quadril, resultado de mais de três décadas jogando bola em quadras de cimento Brasil afora, era um motivo muito mais contundente do que a idade no RG.
Após iniciar a trajetória profissional na Copagril, time de sua cidade natal, em 2001, a última camisa de Rafinha Muller seria da ACEL/ Chopinzinho, defendida pelo fixo nas três últimas temporadas. Seria.
Um convite feito pela direção do Guaíra Futsal, que tem como grande objetivo subir para a Série Prata do Campeonato Paranaense, convenceu o experiente jogador rondonense a dar continuidade na carreira por mais uma temporada. Para Rafinha, uma oportunidade de desacelerar, antes de parar de vez. “Como todos sabem ano passado seria o meu último ano. Estou com uma lesão muito séria, uma artrose de quadril, que me limitava muito, principalmente nos treinamentos do dia a dia. Passei os últimos seis meses à base de medicação muito forte para continuar ajudando o Chopinzinho, então junto com minha família resolvemos que eu iria parar. Mas aí surgiu essa proposta do Guaíra, que está disputando a Bronze. O pessoal lá treina duas vezes na semana, então me fizeram uma proposta boa, que será treinar nestes dois dias e ir para o jogo. Eu acredito que treinando duas vezes na semana vai me ‘judiar’ pouco, eu diria assim, na parte de dor, então eu resolvi aceitar esse desafio, que é ajudar Guaíra subir par a Prata. Sempre fui muito competitivo, então eu resolvi aceitar esse desafio, até porque eu não quero ficar totalmente parado, porque se eu fizer isso seria até pior pra minha lesão. Então continuo mantendo aqui a minha parte física em dias normais e duas vezes na semana eu vou eu vou até Guaíra pra treinar e tentar terminar mais um ano jogando. Conheço alguns dos meninos que estão lá e isso também facilitou para que eu pudesse aceitar esse novo desafio na minha carreira”, explica Rafinha, citando atletas rondonenses que já defenderam Guaíra ano passado e que seguirão no Tucunaré, como os alas Gabriel Silva e João Perachi e o fixo Guerra.
“A expectativa é muito grande de fazer um grande ano e atingir os objetivos traçados pela diretoria. Ano passado batemos na trave e infelizmente não conseguimos o acesso, que era o principal objetivo. Mas o projeto do Guaíra Futsal é ambicioso e tenho certeza que em breve colheremos bons frutos. Um exemplo claro foi a contratação do Rafinha, que vem para nos dar um grande suporte tanto dentro como fora das quadras, pela sua trajetória consolidada dentro do futsal. Fico muito feliz em poder trabalhar com um jogador como ele, só temos a ganhar nessa temporada”, pontua Gabriel Silva.
Nome pesado
Dono de uma carreira vitoriosa e reconhecida em todo Paraná, Rafinha Muller, tricampeão da Série Ouro (em 2009 pela Copagril, e em 2011 e 2012 pelo Cascavel), está ciente da responsabilidade que terá com a camisa do Guaíra e demonstra o mesmo espírito vencedor que marca sua carreira. “Vou com a mesma vontade de vencer como fui em todas as equipes que eu passei, acho que essa sempre foi a minha grande característica. Sempre me dediquei muito por todas as camisas que eu vesti, então eu vou pra Guaíra com o mesmo intuito. Sei da dificuldade que é de jogar tanto a Bronze, como a Prata e a Ouro no Paraná, são jogos muitos muito difíceis e disputados, tanto dentro como fora de casa, então vou com essa com essa mesma força pra tentar ajudar dentro de quadra os meus companheiros e o projeto. Sei também da minha importância em relação aos mais jovens, acho que nos meus últimos anos já foram assim, tentei passar tudo aquilo que aprendi no futsal para todos com quem trabalhei, então vou também com essa responsabilidade e espero que consiga ajudar todos a alcançar os objetivos”, analisa.
“Orgulho do que vivi”
Aos 39 anos, Rafinha Muller será um ‘quarentão’ quando a temporada acabar. Antes de iniciar os trabalhos para sua (provável) última temporada como profissional, o rondonense olha para trás e se emociona com grandes recordações dos caminhos que o fizeram ter uma carreira marcante como jogador de futsal terminará. “Sempre sonhei em ser jogador de futsal. Sonhei isso junto com o meu pai (seu Isidoro Muller, in memorian), que foi o meu grande incentivador, o cara que fez tudo por mim desde os meus cinco anos para que eu fosse jogador de futsal. E isso me deixa muito feliz, acho que foi um uma história linda que eu construí no futsal, tudo graças às pessoas que me ajudaram no início aqui em foram muitos. Tenho muito orgulho de tudo que vivi na minha carreira, de tudo que passei nela, pelos momentos e pelas equipes em que joguei, isso me deixa muito orgulhoso”, menciona Rafinha, lembrando com carinho de um gol marcado em 2001, que valeu o título da Série Bronze para Copagril diante do Tuiuti, de Cascavel. Para ele, o lance que foi um divisor de águas na carreira e o tornou, de fato, um jogador de futsal. “Foi um jogo emocionante até o fim, e faço um gol faltando pouco tempo para acabar o jogo. O empate era do adversário e na época eu tinha pouca idade e jogava menos que os outros. Aí eu chego no Éder Melo (técnico) e falo pra ele me colocar no jogo, que eu iria fazer o gol da vitória. Faltava um minuto e pouco. Então ele me coloca no jogo e faço o gol. Então acho que tudo começou ali”, recorda.
Para ele, aqueles anos nas divisões inferiores do futsal paranaense sedimentaram o caminho para a Copagril se tornar, posteriormente, um grande time da elite estadual e muitas vezes destaque na Liga Nacional. “Aquele projeto da Copagril Bronze, quem conviveu, sabe da dificuldade que era. Depois o projeto teve uma continuidade muito legal também, mas o início dele foi muito difícil, as pessoas que estavam por trás dele batalharam muito para que desse certo”, menciona.
Além de Copagril, Cascavel e Chopinzinho, já citados, Rafinha Muller defendeu também as cores de Medianeira, Francisco Beltrão, Chapada (RS), Cartagena (Espanha), Brasil Karin, de Sorocaba (SP), onde jogou ao lado de Falcão, Concórdia (SC) e Intelli (SP).
Ciclo da bola
No início de fevereiro, Rafinha Muller e seus companheiros se apresentam ao técnico Tê para iniciar a preparação visando a disputa da Série Bronze. Mesma competição onde tudo começou para Rafinha Muller, há 21 anos. “Tudo tem um ciclo, o início, meio e fim, e acho que consegui vivenciar todos na maior intensidade possível. Estou indo para esse projeto de Guaíra porque eu sei da dificuldade que é jogar o Paranaense, e espero que eu consiga sim ajudar eles não só dentro de quadra, mas fora também, por tudo aquilo que eu vivenciei no futsal. Espero que eu consiga colocar tudo para que o Guaíra consiga subir à Prata nesse ano de 2022”, finaliza.
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